De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), é estimado que até o fim do ano de 2022 sejam registrados cerca de 8.460 novos casos de câncer infanto-juvenil. Para enfrentar o doloroso tratamento, é necessário muita força de vontade e determinação. Os avanços na medicina são importantes na busca da cura e melhores tratamentos para a doença, mas também é válido salientar a fundamental adoção de equipamentos que proporcionam meios de amenizar a dura rotina. Como é o caso do cateter venoso central de inserção periférica (PICC - sigla em inglês para Peripherally Inserted Central Catheter).
PICC
Uma das formas encontradas para a melhoria neste processo foi o uso do PICC, instrumento que tem se mostrado uma alternativa bastante eficaz frente a outros tipos de cateteres tradicionalmente utilizados. A adoção desse cateter se dá com o intuito de proporcionar um procedimento menos invasivo, por consistir em um cateter de aplicação única, evitando que o paciente seja furado por diversas vezes.
Também apresenta uma menor incidência de complicações, tem um custo reduzido e material resistente. Tornando-se ideal para aplicação de remédios, para o tratamento de quimioterapia e na coleta de sangue, algo muito frequente, principalmente nas crianças com leucemia.
De acordo com Bárbara Matos, ex-enfermeira chefe da ala oncológica infantil do Hospital São Marcos, o PICC veio para trazer mais qualidade ao tratamento das crianças, evitando furos e traumas. “As crianças precisam ser furadas no mínimo de 4 em 4 dias, para que seja feita a punção (retirada de fluido para análise). Isso gera medo nas crianças e dificulta o relacionamento com a equipe”, disse a enfermeira. Ela também concluiu dizendo que é nítido a qualidade superior no desenrolar do tratamento de crianças com PICC.
Assim vem agregando no tratamento do câncer infanto-juvenil, sendo um grande aliado para a equipe médica. Uma opção duradoura, confiável e segura para a terapia endovenosa, garantindo melhora significativa na qualidade de vida destes pacientes, usuários da rede pública de saúde.
Caminho para o PICC
Para que seja feita a aplicação do PICC na criança é necessária uma série de etapas a serem cumpridas. Após a solicitação pelo médico assistente, o processo tem início com a consulta de verba no setor de Responsabilidade Social, para custeio do aparelho e aplicação; quando aprovado, é encaminhado à equipe assistencial responsável e feito uma avaliação, caso a criança esteja apta para receber o cateter, dão o parecer cirúrgico positivo; por fim, é feito o procedimento de colocação do PICC, por uma médica especialista, na ala de Hemodinâmica do Hospital São Marcos (HSM).
Alguns detalhes importantes de ressaltar são: o PICC não tem prazo de validade, ele só é removido caso chegue ao fim do tratamento ou haja alguma infecção no local. Para que isso não aconteça, são necessárias medidas de higiene rigorosas, como diariamente a limpeza e avaliação do local da aplicação, troca a cada 15 dias do plástico filme que envolve o PICC e troca a cada 7 dias do “Statlock”, um adesivo que mantém fixo o cateter. Caso a criança esteja de alta e não seja possível se encaminhar ao HSM, é necessário a troca da atadura diariamente.
Para Sara Kalyne, mãe do Ian Levi, o início do tratamento foi tenso, com muitos exames, a mudança na sua rotina e principalmente no cotidiano do filho. Mas ela reforça que agora com a aplicação do PICC (cateter venoso central de inserção periférica), tudo melhorou. “Recentemente tivemos a oportunidade de colocar o PICC nele, o que melhorou 100% no tratamento. Isso proporcionou um vínculo maior entre ele e a equipe assistencial”, enfatizou a Sara.
Do ano de 2019 até o mês de setembro de 2022, já foram aplicados 77 PICCs em crianças internadas no hospital, sendo 30 só no ano de 2021.
O câncer infanto-juvenil
Diferente da manifestação da doença em adultos, geralmente associado ao envelhecimento e fatores externos (tabagismo, álcool, entre outras exposições), o câncer infantil é ligado às células que sofrem mutação no material genético e não conseguem amadurecer como deveriam, permanecendo com as características semelhantes da célula embrionária, multiplicando-se de forma rápida e desordenada. Por isso, a proliferação do tumor é mais rápida em crianças.
Em contrapartida, essa velocidade se faz benéfica na resposta ao tratamento de quimioterapia, com a taxa de 80% de cura para os casos descobertos e tratados precocemente. Os avanços no desenvolvimento do tratamento também são positivos, visto que a expectativa de sobrevida dessas crianças agora é de 5 anos ou mais.
Quem acompanha diariamente todas essas crianças internadas de perto sabe como é complicado o tratamento e que alguns dias são ainda mais difíceis. Mas também, conseguem perceber o quanto o uso desse material faz bem, que é o caso da Fernanda Xavier, terapeuta ocupacional do hospital. Segundo Fernanda, “A liberdade proporcionada pelo uso do PICC é muito importante para elas. Faz com que se sintam muito mais acolhidas, consequentemente deixando-as mais alegres e inspiradas para o tratamento”, frisou a terapeuta.
APCC-AA
A Associação Piauiense de Combate ao Câncer - Alcenor Almeida (APCC-AA), instituição mantenedora do Hospital São Marcos, atende 100% dos casos de câncer infanto-juvenil no estado do Piauí, de forma totalmente gratuita.
Todavia, para que tudo isso aconteça e essas crianças sejam beneficiadas, infelizmente depende de um alto custo, que o Sistema Único de Saúde (SUS) deveria se responsabilizar integralmente, mas não o faz por conta da sua tabela de pagamentos defasada. Então a APCC, por meio do HSM, busca suprir a verba necessária para que se mantenha o tratamento e essas aplicações.
Como forma de arrecadar dinheiro para o custeio de novos cateteres e proporcionar avanços na ala oncológica infantil, o HSM desenvolveu o projeto Festival Cultura do Bem, que teve início no ano de 2019 e acontece todo mês de outubro, também como forma de comemoração ao mês da criança.
O evento consiste na venda de camisas, leilões, rifas e muitas outras atividades para arrecadar fundos. Em conjunto, há uma série de atividades como oficinas, teatro, música, brincadeiras e muito mais, a fim de proporcionar alegria e um momento de descontração para as crianças internadas.