Câncer bucal é diagnosticado tardiamente em São Paulo
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Os cirurgiões-dentistas das unidades básicas de saúde do município de São Paulo estão despreparados para a prevenção e diagnóstico precoce do câncer bucal. Essa é a conclusão de uma pesquisa desenvolvida pelo dentista Érico Marcos de Vasconcelos para a sua dissertação de mestrado na Faculdade de Odontologia (FO) da USP, orientada pelo professor Jayro Guimarães Junior. "A falta de preparo desses profissionais faz com que a maioria dos diagnósticos de câncer bucal seja feita nos estágios avançados da doença", afirma, Segundo ele, São Paulo é a cidade que possui as maiores taxas de incidência nacionais. O câncer de boca é uma doença que afeta os tecidos moles da boca, como bochecha, língua, gengiva, palato duro (conhecido como céu da boca) e assoalho da boca. "É uma enfermidade plenamente evitável, visível e curável em estágios iniciais, mas, mesmo assim, no Brasil, ela atinge números assustadores, conta Vasconcelos. O câncer bucal se desenvolve a partir de feridas, em alguns casos, de placas brancas e, em menor número, de manchas vermelhas. Segundo o pesquisador, o diagnóstico é simples, não só pelo fato de a doença ocorrer em um lugar de fácil acesso (a boca), mas também por não requerer tecnologia e nem técnicas apuradas. Pessoas com mais de 40 anos, fumantes, etilistas crônicos (ou seja, que fazem uso de álcool em baixas quantidades mas por um longo período), e que já estiveram por muitos anos expostas diretamente à radiação solar, são mais suscetíveis ao desenvolvimento desse tipo de câncer. Metodologia Para a pesquisa, Vasconcelos enviou, via correio, 885 questionários aos cirurgiões-dentistas das 286 unidades básicas de saúde (UBS) de São Paulo. Apenas 282 profissionais aceitaram participar da pesquisa e responderam integralmente o questionário - uma taxa de resposta de 32 %. Em sua maioria, eram do sexo feminino, com mais de 20 anos de graduação, com perfil generalista e que possuíam outros vínculos empregatícios. Os questionários visaram a identificação do perfil do cirurgião-dentista e avaliação do comportamento e do conhecimento quanto à prevenção e o diagnóstico precoce do câncer bucal. Além disso, também buscaram identificar as percepções dos profissionais a respeito do seu conhecimento sobre enfermidade, os recursos físicos das UBS, as práticas profissionais e se há uma educação continuada dos cirurgiões-dentistas. A avaliação do conhecimento era feita atribuindo-se pontos às alternativas assinaladas corretamente. Os resultados foram organizados em um banco de dados por intermédio de um software. Despreparo profissional Apesar de os cirurgiões-dentistas apresentarem uma percepção positiva acerca de suas práticas profissionais e do conhecimento da doença, foi constatado um baixo grau de conhecimento dos fatores de risco e das condições bucais em relação à possível evolução para o câncer bucal. "Apenas um dos 282 acertou todas as perguntas referentes ao conhecimento da doença", afirma o dentista. Ele também conta que a maioria dos participantes expôs limitações relevantes quanto às práticas de apoio à cessação do hábito do tabagismo e etilismo e às aptidões para executarem citologia esfoliativa e biópsia, exames importantes capazes de detectar a doença. Além disso, mais de 70% disseram que as UBS em que trabalham não possuem condições físicas e materiais para a realização desses exames. "Tendo em vista que o quadro é possivelmente mais grave do que o que se tem conhecimento, já que nem todos os profissionais se dispuseram a responder o questionário, verifica-se a necessidade de se propor políticas públicas de enfrentamento do câncer bucal em São Paulo. Elas devem considerar o aprimoramento dos cirurgiões-dentistas das UBS em relação a esse problema e a melhor estruturação desses locais para a pronta realização dos exames complementares para fins diagnósticos", observa o pesquisador.
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