Pesquisadores da Universidade de Buckingham, na Grã-Bretanha, pretendem adicionar o hormônio leptina, que controla o apetite, ao leite infantil para evitar que bebês comam demais no futuro. Especialistas afirmam, no entanto, que o projeto descrito na revista Chemistry and Industry não passa de uma "ficção científica desvairadamente otimista" e questionam a segurança de se testar a leptina em bebês. Bebês que são alimentados com leite infantil, em vez de serem amamentados, crescem mais rápido e estão mais sujeitos à obesidade. O estudo sobre o efeito da leptina, um hormônio produzido no cérebro durante toda a vida, estão sendo realizados no Laboratório Clore da Universidade de Buchingham. A equipe liderada pelo pesquisador Mike Cawthorne planeja adicionar leptina ao leite e a outros alimentos para bebês. Eles já fizeram um estudo em que a leptina foi dada a ratas grávidas e provocou um impacto permanente sobre a propensão dos filhotes à obesidade. Mesmo os que foram submetidos a uma dieta rica em gordura permaneceram magros, enquanto os filhotes de ratas que não receberam a leptina ganharam peso e desenvolveram diabetes. Pesquisas sobre o efeito da leptina sobre o apetite humano realizadas até hoje tiveram resultados desapontadores. Os pacientes logo se tornaram resistentes ao efeito controlador da fome do hormônio. Mas, segundo Cawthorne, oferecer a leptina cedo programa de forma permanente o equilíbrio energético do organismo. "Os leites suplementares estão simplesmente colocando de volta algo que já estava presente antes. O leite materno contém leptina", diz o pesquisador. Críticas Vários especialistas, no entanto, criticam a idéia de adicionar leptina ao leite para bebês. "Vários pesquisadores sugeriram que expor animais a níveis mais altos de leptina no início da vida poderia ter efeitos duradouros na proteção contra a obesidade, mas isso precisa ser confirmado", diz Steve O`Rahilly, professor de Bioquímica Clínica e Medicina na Universidade de Cambridge. "A idéia de que a leptina no leite de bebê vai prevenir a obesidade no homem ainda é ficção científica desvairadamente otimista", acrescenta. Nick Finer, diretor clínico do instituto Wellcome Clinical do Hospital Addenbrookes, em Cambridge, concorda com O`Rahilly. "A idéia de que adicionar algo a um alimento poderia alterar permanentemente o desenvolvimento do cérebro é interessante, mas também é muito assustadora", afirma Finer. Segundo o especialista, novas formas de testar e aprovar esse tipo de tratamento teriam de ser desenvolvidas. "Os primeiros testes seriam feitos em bebês recém-nascidos?", pergunta. "Até hoje, a leptina desapontou muito. A maioria de nós tem bastante (leptina no organismo) e deficiências são muito raras", diz Ian Campbell, diretor médico da entidade beneficente Weight Concern. "Na verdade, pessoas obesas tendem a ter níveis (de leptina) mais altos do que o normal", conclui Campbell.
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