Depressão nas pessoas com mais de 65 anos de idade é um problema de saúde pública. Tem conseqüências graves, incluindo sofrimento dos pacientes e cuidadores, piora da incapacidade associada à doença física e aos transtornos cognitivos, aumento dos custos dos cuidados de saúde e mortalidade aumentada relacionada ao suicídio e à doença física.
Estudos revelam que cerca de 16% dos idosos apresentam sintomas depressivos com relevância clínica. Em unidades de atenção primária, pacientes com doenças crônicas apresentam taxas substancialmente maiores.
A depressão geriátrica é pouco reconhecida, especialmente em hospitais gerais, serviços de cuidado de longo prazo e unidades de atenção primária. Ocorre frequentemente na presença de condições cujas manifestações são similares a sintomas depressivos (por exemplo falta de energia, fadiga, cansaço e diminuição da libido). Os idosos ainda obscurecem o diagnóstico quando põem menos em evidência o sintoma de humor deprimido ou tristeza e enfatizam irritabilidade, ansiedade e dificuldades cognitivas (problemas na memória, linguagem,...)
O diagnóstico é clínico, baseado na história do idoso e, se necessário, de um informante, além da observação do seu comportamento. Todos os idosos com depressão devem ser questionados sobre idéias suicidas.
Doenças físicas e medicamentos podem causar sintomas afetivos; por essa razão, revisão da história médica, exame físico e exames laboratoriais são fundamentais em qualquer tipo de depressão geriátrica. Vale ressaltar que o luto é considerado uma reação normal à morte de uma pessoa amada. Como parte dessa reação, algumas pessoas podem apresentar uma síndrome semelhante à depressão; nesses casos, esse diagnóstico não se aplica, exceto se os sintomas prolongarem-se por mais de 2 meses.
A presença de sintomas ansiosos em idosos deprimidos associa-se com ideação suicida mais freqüente, sintomas depressivos mais graves, interação social mais prejudicada e resposta mais pobre aos antidepressivos.
O tratamento visa à supressão dos sintomas depressivos, à redução do risco de recidiva e recorrência e à melhoria da qualidade de vida e da capacidade funcional. Os tratamentos disponíveis incluem: uso de antidepressivos, psicoterapia (extremamente útil em idosos que enfrentam situações estressantes ou dificuldades interpessoais, têm pouco suporte social ou não toleram medicação) e atividade física supervisionada.
Recomenda-se manutenção do tratamento por pelo menos 6 meses após a recuperação do primeiro episódio, e 12 meses em doença recorrente. Alguns pacientes precisam de tratamento indefinidamente para manter-se bem. A consulta periódica com um geriatra é fundamental na prevenção e resolução do problema.