O urologista do Hospital São Marcos, Aurus Dourado Meneses, é formado pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), cirurgião Geral pela Santa Casa de São Paulo, estou ainda na Clinical Fellow em Urologia Laparoscópica e Robótica no Hospital Henri Mondor em Paris. Na entrevista a seguir, o especialista fala sobre o câncer de próstata, os tratamentos e as medidas de prevenção para os homens.
1 - Quais os exames que o homem deve fazer para a prevenção do câncer de próstata? A partir de que idade?
Para uma detecção precoce, a Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que seja realizado o rastreamento de câncer de próstata em pacientes com idade entre 50 e 80 anos, por meio dos exames de PSA e de toque retal, ambos com frequência anual. Nos pacientes com parentes de primeiro grau com diagnóstico de câncer de próstata, bem como os pacientes da raça negra, por apresentarem um maior risco desta neoplasia, orienta-se iniciar este rastreamento aos 45 anos. O PSA é uma glicoproteína produzida pela próstata e detectada na corrente sanguínea, que se eleva em algumas doenças específicas da próstata, dentre elas o câncer prostático. O toque retal permite ao urologista estimar o tamanho da próstata e permite detectar nodulações endurecidas em sua zona periférica que são sugestivas de câncer. Se houver qualquer anormalidade tanto no PSA quanto no toque retal, é imperativa a realização de uma biópsia de próstata guiada por ultrassom que irá retirar alguns fragmentos os quais serão enviados para análise histopatológica para a confirmação ou exclusão do câncer.
2 - Em sua opinião, o que ainda impede que os homens se cuidem? Como isso poderia ser mudado?
Vários estudos demonstraram que os homens, em geral, padecem mais de condições graves e crônicas de saúde do que as mulheres, apresentando uma menor expectativa de vida. Apesar disso, historicamente a sociedade acostumou a ver o homem como alguém que não pode chorar ou sentir dor, que tem que ser sempre forte, viril e provedor. E o cuidado não é visto como uma prática masculina. Esta visão levou uma parcela dos homens a se sentir como super-heróis e, portanto, acima de qualquer doença, levando-os a procurar menos os médicos. A outra parcela não nos procura por medo ou preconceito. Uma forma de mudar esta realidade é a educação em saúde, criando uma nova mentalidade no âmbito da sociedade. Ao meu ver, seria ideal que o pediatra fosse substituído automaticamente ou por um hebiatra (especialista em adolescente), ou por um urologista, para que o jovem pudesse receber desde cedo orientações sobre sexualidade, sua parte genital, conversar sobre prevenção de gravidez e DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis), além de informações sobre como realizar o autoexame de testículo.
3 - Quais são os principais sintomas do câncer de próstata?
O câncer de próstata em suas fases iniciais é completamente assintomático, entretanto, na medida em que a doença avança, podem ser observados sintomas relacionados à obstrução uretral (como dificuldade para urinar e redução do jato urinário), hematúria (sangramento na urina), dor pélvica, obstrução dos ureteres levando a insuficiência renal, e dores e fraturas ósseas (estes são relacionados à presença de metástases ósseas).
4 - Existem fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de próstata?
O câncer de próstata está relacionado a vários fatores, sendo que os mais relevantes são a idade, a raça e o histórico familiar. Quanto maior a idade do paciente, maior a chance de desenvolver câncer de próstata. Afrodescendentes apresentam um risco maior de ter o câncer diagnosticado em um estado mais avançado e um risco duas vezes maior de falecer de câncer de próstata. No que se refere ao histórico familiar, a presença de câncer de próstata em um parente de primeiro grau aumenta o risco de desenvolvimento do câncer em mais de duas vezes, cumulando-se na medida em que se aumenta o número de parentes do paciente com a doença, podendo atingir nove vezes o risco da população geral.
5 - Quais os tratamentos para o câncer de próstata?
O tratamento do câncer pode ser dividido em dois grupos de pacientes. O primeiro grupo representa aqueles doentes em que a doença foi descoberta tardiamente e, portanto, já se encontra fora de possibilidade de cura. Nesta parcela, oferecemos tratamento com bloqueio hormonal, que irá controlar o crescimento desta neoplasia por um bom tempo. Nos pacientes resistentes ao bloqueio hormonal é realizado quimioterapia. O segundo grupo é representado por aqueles doentes cujo diagnóstico foi feito precocemente, podendo desta forma ser oferecido um tratamento curativo. Este pode ser realizado por radioterapia ou por cirurgia. A cirurgia para o câncer de próstata era tradicionalmente realizada de forma “aberta” (cirurgia convencional), entretanto novas modalidades minimamente invasivas vêm surgindo, como a cirurgia laparoscópica e robótica. Estas, por sua vez, apresentam vantagens sobre a cirurgia “aberta” por apresentar um menor tempo de internação, menor dor pós-operatória e menor sangramento intra-operatório, levando o doente a uma recuperação mais precoce. A escolha do tipo de tratamento deve ser discutida com o urologista, que irá tomar uma decisão em conjunto o doente na escolha da melhor terapêutica após analisar uma série de particularidades que cada caso apresenta.
6 - O câncer de próstata é a neoplasia mais comum entre os homens, representando mais de 40% dos tumores que atingem o sexo masculino a partir dos 50 anos. O diagnóstico precoce continua sendo a arma mais eficaz contra esse tipo de câncer?
Ainda não existe disponível no mercado uma droga que previna de forma segura o câncer de próstata. Desta forma, o que nós podemos fazer é buscar identificar essa neoplasia de forma precoce, tendo em vista que quanto mais cedo o câncer for diagnosticado, maior será a chance de cura do paciente.