A ideia preconcebida de que pacientes enfermos não mantém vida sexual ativa não é verdade, segundo pesquisa realizada na Universidade de São Paulo (USP) que avaliou 139 mulheres afetadas pelo câncer de mama. A descoberta é que, pelo menos um ano após o diagnóstico, metade manteve a vida sexual ativa.
Elisabeth Meloni Vieira, coordenadora do projeto "Sexualidade e Câncer de Mama", afirma que 56,8% das pacientes que participaram da pesquisa afirmaram ter tido ao menos um parceiro sexual no último ano e 48,9% disseram ter feito sexo no último mês.
Ainda segundo a pesquisa, 33,8% das pacientes fizeram sexo na última semana, 5% disseram que a última relação ocorreu entre um e seis meses, 3% afirmaram que foi entre seis meses e um ano e, 38,8%, há mais de um ano.
A hipótese é que a idade e a situação marital são fatores que pesam mais do que o próprio câncer no caso das pacientes sem relação sexual há mais de um ano, pois muitas ficaram viúvas.
Outro estudo qualitativo realizado pelo projeto analisou 25 pacientes do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência na Reabilitação de Mastectomizadas (Rema). As entrevistas revelaram que existem três situações distintas.
Há mulheres que tiveram a vida sexual prejudicada pelas alterações corporais e psicológicas trazidas pela doença, há aquelas que relatam não ter sentido diferença e há também as que afirmam que a vida sexual melhorou após o câncer.
De acordo com Vieira, essas últimas disseram que o medo da morte fez com que o relacionamento com o parceiro melhorasse e isso teve impacto na vida sexual.
A doença, porém, costuma trazer complicações, visto que muitas pacientes entram em menopausa precoce por causa da terapia com hormônios usada no combate ao tumor e isso gera consequências como diminuição da libido e secura vaginal.
Além disso, muitas têm dificuldade para lidar com a perda da mama ou de parte dela, com a calvície temporária provocada pela quimioterapia e com o inchaço nos braços causado pela retirada de gânglios linfáticos das axilas.
A pesquisa feita com as enfermeiras que tratam de pacientes com câncer de mama mostrou que os profissionais da saúde não estão preparados para lidar com a questão.
Para a pesquisadora, é fundamental que os cursos de especialização em enfermagem oncológica incluam o tema da sexualidade nos currículos, pois às vezes paciente precisa apenas de um lubrificante vaginal e a enfermeira não sugere.
Fonte: UOL