Uma descoberta, publicada na edição do dia 5 de setembro da revista científica Nature Genetics, promete dar uma nova compreensão sobre a Leucemia. Um grupo de pesquisadores brasileiros, portugueses, norte-americanos e holandeses identificou uma proteína, denominada de Receptor da Interleucina 7, ou IL7R, que pode estar trás de muitos casos de leucemia em crianças. A pesquisa que durou cinco anos apontou que cerca de 10% dos pacientes com LLA-T possuem alterações nessa proteína.
O estudo mostra que quando a IL7R sofre mutações, leva à proliferação descontrolada das células da leucemia linfoide aguda T (LLA-T), câncer dos glóbulos brancos que afeta principalmente pacientes de até 10 anos. A doença atinge as chamadas células T, responsáveis pelo reconhecimento dos anticorpos produzidos pelo organismo.
De acordo com a publicação, o coordenador da pesquisa, José Andrés Yunes, do Centro Infantil Boldrini, de Campinas (SP), informou que a pesquisa começou a partir do sequenciamento genético do IL7R. Quando esse receptor sofre mutação, causa doenças nas crianças como a imunodeficiência combinada severa, que corresponde a uma série de distúrbios caracterizados por problemas no desenvolvimento ou função defeituosa dos linfócitos B e T. “Com isso, questionamos se poderiam existir mutações que, em vez de levar à morte do sistema imune, levariam a um exagero de produção celular. E descobrimos que sim”, diz o médico. Os testes foram feitos em células in vitro e em camundongos.
“Construímos proteínas com o gene mutado e os transferimos para as células em cultura, para ver se elas sobreviviam e se proliferavam mais do que o normal”, descreve. “O que notamos é que quando a IL7R sofre alterações, o receptor fica ativado constantemente, causando uma hiperproliferação celular, como se fosse uma leucemia”, acrescenta o coordenador da pesquisa.
Segundo a pesquisa, a interleucina é uma molécula com a qual as células de defesa se comunicam. Essas moléculas, segundo ele, guardam substâncias que armam a proteção do organismo. Toda célula tem um receptor que reconhece a presença da interleucina. Uma vez que elas se ligam, o corpo humano reage para se defender de agentes estranhos.
A leucemia linfoide aguda (LLA) é o tipo de câncer mais comum entre crianças, correspondendo a 30% da doença em pessoas com até 15 anos. O pico de aparecimento é ao redor dos 4 a 6 anos. Porém, a LLA-T, que corresponde a 15% das LLAs, é diferente: aparece próximo aos 10 anos e tem maior incidência em meninos.
A expectativa é que com a descoberta da atuação da proteína e do receptor IL7R no ciclo de divisão ou morte celular, o conhecimento poderá ser usada para o desenvolvimento, no futuro, de medicamentos mais eficazes.