Uma batalha vencida por ancestrais dos humanos contra um vírus que infectava chimpanzés e outros primatas milhões de anos atrás pode ter deixado as pessoas de hoje em dia mais vulneráveis ao vírus da aids, disseram cientistas na quinta-feira. Aquela antiga batalha ajudou os humanos a evoluírem e usarem um gene que pode não proteger tão bem contra um retrovírus moderno, o vírus da imunodeficiência humana (HIV), segundo os pesquisadores. Eles se concentraram num vírus antigo, o retrovírus endógeno pan-troglodita (PtERV1), para tentar descobrir por que o HIV é tão insidioso em humanos. "Fatos que aconteceram há milhões de anos moldaram a evolução humana, em particular a suscetibilidade a doenças infecciosas humanas modernas", disse Michael Emerman, do Centro de Pesquisa do Câncer Fred Hutchinson, de Seattle, nos Estados Unidos, que liderou o estudo. Existe evidência genética de que o PtERV1 infectava chimpanzés, gorilas e outros símios do velho mundo há cerca de 4 milhões de anos, mas não há sinais de que contaminasse humanos. O vírus teria se extinguido há, talvez, 2 milhões de anos. O grupo de Emerman conseguiu ressuscitar uma pequena porção do PtERV1 usando restos de DNA do vírus alojados no genoma de chimpanzés. Em células de laboratório, eles descobriram que um velho gene de combate a vírus presente em humanos, o TRIM5a, conseguia neutralizar o PtERV1. O gene produz uma proteína que se liga ao vírus e o destrói antes que ele possa se replicar dentro do organismo, segundo o relato na revista Science. "Entretanto, embora o TRIM5a possa ter servido bem aos humanos milhões de anos atrás, a proteína antiviral não parece ser boa na defesa contra os retrovírus que atualmente afetam os humanos, como o HIV-1", disse Emerman em um comunicado. Pequenas mutações podem explicar isso. O TRIM5a tirado de babuínos e de macacos africanos continha mutações que o ajudavam a reduzir o HIV em laboratório, mas o gene era quase inútil contra o PtERV1. Por outro lado, quando o TRIM5a funciona bem contra o PtERV1, como em humanos, ele é ineficaz contra o HIV. "No fim das contas, isso guiou a evolução humana a ser mais suscetível ao HIV", disse o cientista. Os retrovírus se infiltram a milhões de anos no próprio genoma de ancestrais humanos e de outros animais, perpetuando-se assim de geração em geração. Na verdade, tais vestígios de infecções primitivas compõem 8% do genoma humano, segundo Emerman.
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