Há 10 anos, só 30% das crianças com a doença sobreviviam Por Fabiana Cimieri A evolução no tratamento das leucemias infantis possibilita a cura em mais de 70% dos casos. Há uma década, a doença era quase sinônimo de morte, já que apenas um porcentual de 20% a 30% das crianças sobreviviam. A interiorização dos centros de alta complexidade, o desenvolvimento da quimioterapia e o surgimento de grupos de apoio contribuíram para que o Brasil atingisse o patamar atual. O Centro de Pesquisas do Instituto Nacional do Câncer (Inca), referência na América Latina, auxilia no diagnóstico e orienta o tratamento de leucemias infantis em 47 centros de alta complexidade do País. No entanto, apesar do otimismo de pesquisadores e médicos oncologistas, 80% da população ainda associa a palavra câncer à morte ou dor, segundo pesquisa divulgada pelo instituto na semana passada. A pesquisadora do Inca Maria do Socorro Pombo, membro do Consórcio Internacional para Pesquisas em Leucemias Infantis, ressalta que, embora o diagnóstico da doença ainda seja doloroso e desesperador, a esperança na cura é importante para o tratamento. “O otimismo e a motivação do grupo pediátrico fazem com que eles sejam os que melhor respondem aos medicamentos”, diz ela. Embora ainda não se saibam ao certo as causas da doença, segundo Maria do Socorro, a comunidade científica internacional tem hoje convicção que a origem está na vida intra-uterina ou na gametogênese (processo de diferenciação das células sexuais) dos pais. O uso de pílulas anticoncepcionais, consumo de álcool e exposição a pesticidas são fatores de risco que aparecem em pesquisas preliminares associados à doença em crianças. A leucemia é a doença maligna mais comum na infância. Segundo o estudo Estimativa de Incidência de Câncer, em 2006 surgiram de 4.700 a 19 mil novos casos de tumores pediátricos, dos quais 30% correspondem a crianças diagnosticadas com leucemia, ou seja, algo entre 1.500 a 5 mil pacientes. A faixa etária mais atingida é entre 3 e 5 anos. Casos abaixo de 2 anos e acima de 14 são mais raros. SINTOMAS PARECIDOS O que dificulta o diagnóstico por médicos não-especialistas é que os sintomas são parecidos com os de outras doenças da infância: febre, dor no joelho (que pode ser confundido com a chamada “dor de crescimento”), palidez e aparecimento de manchas roxas pelo corpo. A suspeita pode ser reforçada por um exame de sangue. Se houver alteração significativa no número de leucócitos (glóbulos brancos), o médico deve pedir o mielograma, exame feito por meio da punção do líquido da medula óssea, para confirmar o diagnóstico. Apenas 5% das crianças irão necessitar de transplante de medula óssea. A maioria precisa apenas de quimioterapia para destruir células doentes e radioterapia para evitar recaídas. Há quatro protocolos básicos de tratamento que são ajustados a cada paciente. “Por isso é importante o papel do médico, que tem de ter sensibilidade e conhecimento técnico. Um erro na dose faz com que deixe de ser remédio e possa causar outra doença”, diz. Cerca de 80% dos pacientes não precisam ficar internados durante as duas fases do tratamento, que dura cerca de dois anos. O maior temor é a reincidência. Essa é a maior causa de morte, afirma a oncologista pediátrica Ana Maria Cornacchioni. “O medo é tanto que muitos perguntam se não podem fazer mais um pouco de quimio”, afirma. “Em cidades como Rio, São Paulo e Salvador, não ficamos nada a dever aos países desenvolvidos. O problema é que não temos apenas esse Brasil. Minha maior preocupação é o paciente que sequer chega a receber tratamento por falta de diagnóstico, pois em muitos lugares os médicos não estão capacitados para isso”, diz Cornacchioni.
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