O traumatismo cranioencefálico (TCE) é um problema de saúde pública cujas consequências têm enorme impacto socioeconômico para suas vítimas e suas respectivas famílias. É considerado um dos maiores problemas nos países ocidentais, com gastos que ultrapassam 60 bilhões de dólares por ano.
Estudos utilizando avaliações neuropsicológicas em vítimas de TCE têm demonstrado o desenvolvimento de uma variedade de déficits cognitivos que incluem prejuízos no funcionamento executivo, nos processos atencionais e nos processos de memória. Sintomas que, em seu conjunto associam-se a perdas das atividades funcionais, afastamento do trabalho e a uma série de prejuízos pessoais e sociais.
No Brasil, os dados epidemiológicos não são diferentes dos demais países, com aumento progressivo anual e prevalência em adultos jovens do sexo masculino, sendo o principal mecanismo de trauma os acidentes motociclísticos e automobilísticos.
No Piauí, o médico residente em Neurocirurgia e pesquisador do Centro de Ensino de Pesquisa do Hospital São Marcos, Dr. Márcio da Silva Pereira apresentou um método para reabilitar as funções cognitivas em pacientes com traumatismo cranioencefálico moderado ou grave, vítimas de acidentes ou violência.
O método foi desenvolvido pelo prof. Dr. Wellingson Paiva, chefe do setor de trauma de crânio do Hospital das Clínicas da faculdade de medicina da USP, instituição parceira da pesquisa. A fotobiomodulação utilizando luz de LED de baixa intensidade tem sido testada como uma nova técnica para otimizar a recuperação cognitiva de pacientes com traumatismo cranioencefálico.
“O objetivo da nossa pesquisa é avaliar os efeitos imediatos e tardios da Terapia Led Transcraniana (TLT) no controle inibitório de pacientes vítimas de traumatismo cranioencefálico moderado ou grave”, informa o Dr, Márcio.
A pesquisa do Dr. Márcio Pereira foi apresentada no dia 26 de janeiro, durante sua defesa de TCC intitulada “Estudo prospectivo randomizado, duplo cego, placebo controlado dos efeitos de Terapia LED Transcraniana, em pacientes com traumatismo cranioencefálico. “A terapia consiste na aplicação de laser, emitido por diodos instalados em um capacete, para promover a recuperação do tecido cerebral”, explica Dr. Márcio Pereira.
O estudo randomizado duplo-cego foi realizado com dois grupos paralelos. “O dispositivo experimental foi composto por LEDs com comprimento de onda em 632nm (vermelho) com potência total de 830 mW. A área do dispositivo tinha 400 cm² e cada sessão durou 30 minutos, dando uma dose total por sessão de 3,74 J/cm²”.
“O grupo controle continha um dispositivo de LED placebo com potência <1 mW, servindo apenas para simular a irradiação. Cada paciente foi irradiado três vezes por semana durante seis semanas, totalizando 18 sessões. Avaliações neuropsicológicas foram realizadas uma semana antes do início das sessões, uma semana e três meses após o término das sessões”, declara o médico.
Na amostra analisada foram 8 pacientes (5 ativos x 3 placebos), com resultados basais semelhantes. Significância no grupo experimental (GE) houve na seguinte comparação: transversal no teste dos Dígitos (momento 3) com p<0,05 e tendência de diferença estatística pelo Z-score no grupo experimental na avaliação longitudinal.
Apesar do controle inibitório não ter apresentado melhora após a terapia com LED, os pacientes do GE apresentaram ganho na função executiva. “O dispositivo de LED mostrou ser uma técnica promissora e uma opção terapêutica de baixo custo, não invasiva, segura e não farmacológica para minimizar déficits cognitivos e modular funções neurológicas “, assegura Dr. Márcio Pereira.
Diferentes terapias com uso de luz, reunidas sob o termo fotobiomodulação, já vêm sendo aplicadas para problemas diversos de saúde – de lesões ortopédicas e fibromialgia a Alzheimer e depressão -, qualquer doença em que se deseja promover ou inibir certas funções celulares, ou seja, modular estas funções.
No caso do traumatismo, o objetivo é estimular a regeneração de neurônios lesionados. Diodos emissores de LED são capazes de penetrar no couro cabeludo e no crânio e têm potencial de melhorar a atividade celular do tecido cerebral comprometido.
“Encerro um importante ciclo na minha vida com a conclusão da residência médica em Neurocirurgia. Agradeço imensamente a toda equipe do Hospital São Marcos por terem me acolhido tão bem durante essa trajetória. Inicio agora uma nova etapa como neurocirurgião com a certeza de ter adquirido uma formação sólida que me possibilitará exercer a Neurocirurgia com excelência”, fala o mais novo neurocirurgião do Piauí.
A banca avaliadora foi composta pelo Prof. Dr. Edilson Carvalho, diretor de Ensino e Pesquisa HSM, Prof. Dr. Nazareno Pearce, chefe da Neurocirurgia HSM, Prof. Dr. Kelson James, neurologista e orientador do TCC e Prof. Dr. Emerson Brandão, neurocirurgião.
Mais informações:
Centro de Ensino e Pesquisa
(86) 2106-8102