São Paulo (AE) - A cada prazer, uma punição. Adiantada. Para quem tem diabete, especialmente do tipo mais grave, todo biscoito, todo sanduichinho que se consome ao longo do dia precisam ser precedidos de uma injeção de insulina, que geralmente o próprio paciente se incumbe de aplicar. Mas esse autoflagelo está prestes a acabar. A partir do ano que vem começam a chegar ao mercado as primeiras insulinas inaláveis E indolores. A primeira a chegar deve ser a Exubera, produzida pelo laboratório Pfizer em parceria com o Grupo Sanofi-Aventis, que recebeu pareceres positivos na Europa e nos Estados Unidos e será submetida à aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em dezembro. A insulina "em pó" é borrifada com o uso do de um aparelho que tem cerca de 20 centímetros de comprimento, produzido pela Nektar Therapeutics. Ela é composta de microcristais que, quando inalados, são absorvidos pelos pulmões e daí entram na corrente sanguínea. Outras possibilidades também já estão em desenvolvimento. Em 2007, deve ser lançada a Aerx (Novo) primeira insulina do mercado que poderá ser pulverizada na boca com o auxílio de um aparelho que tem controle de temperatura. Uma concorrente, a Olralin (Generex), deve chegar ao mercado em 2008. Mais prática, poderá ser aplicada por um bombinha semelhante às usadas por asmáticos. "Será absorvida pela própria mucosa bucal - não chegará a passar pelo estômago", explica o endocrinologista Fadlo Fraige Filho, presidente da Associação Nacional dos Diabéticos (Anad). Uma vantagem das versões líquidas sobre a de microcristais é a de não provocar tosse durante a inalação. "A idéia é oferecer ao paciente uma alternativa às injeções de rápida duração aplicadas antes das refeições", explica João Fitipaldi, diretor médico da Pfizer, laboratório que desenvolveu a insulina inalável em microcristais. Ela (assim como as futuras versões líquidas) não substitui a insulina de longa duração (ou basal), que o paciente deve tomar uma vez ao dia, só as de curta duração que antecedem as refeições. Normalmente, um paciente com diabete tipo 1 (veja boxe), por exemplo, pode chegar a tomar seis injeções por dia, ao todo. Esta primeira versão da insulina inalável não é recomendada para pacientes fumantes ou com problemas pulmonares, porque sua correta absorção depende da boa saúde dos pulmões. A grande questão é saber se seu uso prolongado pode prejudicar o aparelho respiratório. "Os estudos que venho fazendo há dois anos indicam que não", sinaliza o endocrinologista Freddy Eliaschewitz, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP). Mas só o tempo dirá o que pode acontecer no correr de décadas, já que a diabete é uma doença crônica. ENTENDA OS TIPOS DE DIABETE: Tipo 1: é o resultado de uma destruição das células produtoras de insulina pelo próprio organismo, como que `por engano` (o sistema imunológico as reconhece corpos estranhos). Isso é chamado de resposta auto-imune. Não se sabe ao certo por que isso acontece, mas alguns fatores parecem estar relacionados ao problema, como a predisposição genética. Quem tem diabete do tipo 1 produz pouca - ou nenhuma - insulina naturalmente. Costuma aparecer na juventude, embora possa surgir em qualquer idade. Tipo 2: a influência da hereditariedade é maior que no tipo 1, mas também tem forte relação com a obesidade e o sedentarismo. Estima-se que 60% a 90% dos portadores sejam obesos. A incidência também é maior depois dos 40 anos. Uma de suas peculiaridades é a contínua produção de insulina pelo pâncreas - o problema está na incapacidade de absorção das células musculares e adiposas. Esta é uma anomalia chamada de "resistência insulínica". A diabete tipo 2 é de oito a dez vezes mais comum que a do tipo 1.
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