A infecção é a principal causa de morte em crianças e adolescentes com câncer em tratamento com quimioterapia no mundo. O sinal mais importante desta intercorrência é a febre, que geralmente vem acompanhada da queda dos neutrófilos (células de defesa) no sangue, sendo esta associação denominada de neutropenia febril.
Para acelerar o tratamento dos pacientes nesta condição nasceu o Projeto Hora Dourada - uma colaboração internacional entre o Institute for Healthcare Improvement, St. Jude Children’s Research Hospital e mais 85 hospitais na América Latina, dentre eles, o Hospital São Marcos, de Teresina - Piauí.
O objetivo do programa é reduzir a mortalidade de crianças e adolescentes em tratamento oncológico no mundo. “A aplicação da primeira dose do antibiótico venoso, em menos de 60 minutos, em pacientes que chegam ao hospital com febre, ou que apresentam durante o período de espera, temperatura igual ou superior a 37.8ºC, salva suas vidas”, informa a oncologista pediátrica, Drª. Gildene Costa.
De acordo com a médica estudos científicos bem documentados, reconhecidos na literatura, mostram que quanto mais tempo demora para a criança com febre receber a primeira dose de antibiótico, maior a chance de contrair sepse, aumentando a chance de óbito em até 90 %.
“Todas as equipes da Pediatria do Hospital São Marcos aderiram ao protocolo e isto teve um impacto significativo. Constatamos que o índice de óbito dos nossos pacientes diminuiu e o índice de pacientes que necessitou de UTI com sepse também. Assim como também diminuiu o índice de infecção grave. Isto significa uma diminuição no tempo de internação e de permanência hospitalar das crianças, o que implica também na diminuição de custos hospitalares com antibióticos e outras demandas dentro das UTIs”, conclui.
“Desde o início do projeto até o presente momento elevamos em 76% a administração de antibióticos na 1ª hora para nossos pacientes, diminuindo assim o número de internações na UTI e, consequentemente, reduzindo a mortalidade das crianças e adolescentes que se apresentaram com neutropenia febril”, destacou Pedrina Araújo, enfermeira do Setor de Qualidade do Hospital São Marcos.
113 atendimentos de pacientes foram realizados seguindo o projeto Hora Dourada. O Hospital São Marcos está há seis meses dentro da meta estabelecida pelo projeto, garantindo uma média de 70% de crianças recebam o antibiótico em até 60 minutos. O desafio a partir de agora será a manutenção das taxas conseguidas até o momento.
“É um projeto que conta com a participação dos profissionais de saúde, da sociedade e dos familiares responsáveis pelas crianças e adolescentes em tratamento para a manutenção do seu sucesso. Pais e mães devem levar seus filhos para o hospital nos primeiros minutos que apresentarem os sintomas de febre”, alerta a enfermeira.
HISTÓRICO DO PROJETO HORA DOURADA
No Brasil, além do Hospital São Marcos, mais oito hospitais participam do projeto, constituíndo uma rede de apoio para unir esforços pela visão compartilhada de melhorias da qualidade afim de alcançar a prestação da assistência segura para as crianças e adolescentes com câncer. O Hospital São Marcos ingressou neste grupo de hospitais em setembro de 2021, quando a equipe assistencial HSM adotou o protocolo do projeto e começou a orientar seus pacientes a procurar imediatamente a emergência, assim que sentissem febre, para garantir o atendimento ágil e eficaz.
Inúmeras ações foram realizadas durante a condução do projeto, dentre elas a realização de blitz educativas internas, e um encontro na Cidade do México, nos dias 29 e 30 de agosto de 2022, para discutir as ações, trocar ideias, apresentar resultados e multiplicar conhecimentos.
Como estratégia local, o Hospital São Marcos criou uma equipe interna para conduzir o projeto, composta por profissionais da assistência, lideranças, médica infectologista e enfermeira do Controle de Infecção Hospitalar, enfermeira do Setor de Qualidade, farmacêuticos, equipe do Laboratório, e profissionais de áreas administrativas como as do serviço de admissão hospitalar, todos capacitados para realizar ações que visam agilizar o atendimento e realizar a orientação às famílias, e profissionais.
Por se tratar de uma ação de impacto social, as expectativas com a sustentação das boas práticas orientadas pelo projeto é garantir o alcance da redução significativa na mortalidade infanto-juvenil em pacientes em tratamento, queda no número de internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) devido a complicações por sepse, e melhorias nas taxas de cura, além de aumento na qualidade de vida dos pacientes.