Os especialistas apontam apenas 10% das ocorrências desse tipo de câncer de ovário têm como fator de risco a genética familiar, mas, quando isso ocorre, o tratamento tem mais chance de êxito. Os outros 90% são classificados como casos esporádicos, decorrentes de diversos fatores. Contudo, duas a três mulheres em cada grupo de 10 que obtêm de 70% a 95% de chances de cura.
Para Fernando Maluf, diretor do Departamento de Oncologia Clínica do Hospital São José, em São Paulo, os exames preventivos disponíveis para rastrear o câncer de ovário na fase pré-maligna não se mostram ainda tão eficazes. “Mas esse cenário pode mudar, com a descoberta de ferramentas de maior precisão, como ocorre hoje nos casos de câncer de mama e de colo de útero”, analisa o médico.
Além de um arsenal mais afinado com a tecnologia avançada para investigar a neoplasia na sua etapa inicial, Maluf visualiza boas perspectivas de tratamento mais eficientes com a chegada de novas drogas. Ele se refere a resultados de pesquisas recentes apresentadas no 47º Congresso Anual da Sociedade Americana de Oncologia, em junho deste ano.
Um desses estudos, já em fase de conclusão e em vias de aprovação pelo Comitê da Agência Europeia de Medicamentos (Emea), refere-se ao bevacizumabe— um anticorpo monoclonal com indicação para outros tipos de câncer, mas que agora poderá seu usado por pacientes com tumores de ovário em estágio avançado.
“Esse medicamento retarda a doença por quatro meses, em média. Isso significa que o paciente fica livre dos sintomas, mas esse intervalo pode ser maior, dependendo da resposta ao tratamento de cada um.” No Brasil, a expectativa é de que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprove o remédio até o fim de 2012.
Outros dois medicamentos, olaparibe e iniparibe, ainda na Fase 2, registraram bons resultados nos testes em pacientes que tiveram doença resistente às quimioterapias rotineiras, conta Maluf. O grupo de doentes com câncer de ovário que recebeu as drogas teve um aumento significativo na sobrevida — ela praticamente dobrou. “Essas drogas representam um avanço muito significativo. Mais importante ainda, são medicações bem toleradas, com poucos efeitos colaterais” afirma Maluf.
No Instituto Nacional do Câncer (Inca), o coordenador de Pesquisa Clínica e Incorporação Tecnológica, Carlos Gil Moreira Ferreira, acredita que o bevacizumabe pode ser vantajoso para alguns pacientes, porque retarda a progressão da doença por um determinado tempo, mas é preciso esperar os estudos confirmatórios. “Em bases individuais, desde que se comprove sua eficácia, claro que se justifica a indicação do bevacizumabe, mas é preciso pensar melhor no caso de um sistema de saúde pública. Tem de ser feita uma análise fármaco-econômica bem detalhada para ver se vale a pena.”
Fonte: Correio Braziliense